Não me deixes!
Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava:
"Ai, não me deixes, não!”
"Comigo fica ou leva-me contigo
Dos mares à amplidão;
Límpido ou turvo, te amarei constante;
Mas não me deixes, não!"
E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
"Ai, não me deixes, não!"
E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
"Ai, não me deixes, não!"
Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.
A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não!"
Debruçada nas águas dum regato
A flor dizia em vão
À corrente, onde bela se mirava:
"Ai, não me deixes, não!”
"Comigo fica ou leva-me contigo
Dos mares à amplidão;
Límpido ou turvo, te amarei constante;
Mas não me deixes, não!"
E a corrente passava; novas águas
Após as outras vão;
E a flor sempre a dizer curva na fonte:
"Ai, não me deixes, não!"
E das águas que fogem incessantes
À eterna sucessão
Dizia sempre a flor, e sempre embalde:
"Ai, não me deixes, não!"
Por fim desfalecida e a cor murchada,
Quase a lamber o chão,
Buscava inda a corrente por dizer-lhe
Que a não deixasse, não.
A corrente impiedosa a flor enleia,
Leva-a do seu torrão;
A afundar-se dizia a pobrezinha:
"Não me deixaste, não!"
Gonçalves Dias (1823-1864)
No
poema “Não me deixes”, a flor está personificada com sentimentos típicos
de seres humanos. A flor sente-se bela; mira-se no espelho d´água; não quer
ficar sozinha; fala; promete amor constante ao regato e implora a sua companhia; a flor praticamente morre de amor.
Portanto,
neste poema ocorre a figura de linguagem que se chama personificação ou prosopopeia.
SEMPRE, desde menino, ao ler antigos livros de Felisberto de Carvalho que meu pai guardava, percebi um CONTRASTE interessante entre esse diálogo prosopopéico da FLOR com a FONTE, de Gonçalves Dias, com o outro diálogo das mesmas criaturas, pensado esse outro por Vicente de Carvalho. Em Vicente de Carvalho, a Flor implora para não ser levada pela água, implorando: "-Deixa-me fonte", enquanto nos versos do maranhense Gonçalves, a flor exora a companhia da água, a cada estrofe clamando: "-...não me deixes, não."
ResponderExcluirCom essa poesia, fiz uma viajem ao passado!
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