Como é bom ter boa memória. Dificilmente eu esqueço alguma coisa. Vou ao supermercado sem listinha de compras e lembro de todos os produtos que eu preciso comprar. Agora mesmo, estou entrando no supermercado. Antes de chegar às gôndolas, percebo que um funcionário está me apontando com o dedo e colocando a mão no rosto. Pensei cá com os meus botões: “Será que esse cara é maluco ou está bêbado?” Não dei bola para os acenos e comecei pegar as compras e colocá-las no carrinho. Passei para o outro corredor e percebi que o cara continuou me seguindo e acenando. Apontava-me com a mão esquerda e passava a mão direita sobre o nariz e a boca. Neste momento pensei: “Como é que o proprietário contratou esse esquisito? Hoje em dia está difícil encontrar pessoas que levem o trabalho a sério”. Continuei a minha compra.
De
repente, encontrei um amigo do tempo de escola, quando éramos criança.
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Opa! Luciano, que surpresa velho amigo! Tudo bem com você?
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Tudo bem, Rodolfo, graças a Deus!
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A quanto tempo não nos vemos, cara! O que tem feito na vida?
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Estou trabalhando como servente ___ respondeu Luciano.
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Eu atuo como pedreiro ___ disse eu.
Nesse
momento a esposa de Luciano o chamou para a fila do açougue.
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Rodolfo eu estou morando na primeira casa ao lado da igreja do Bairro Bela Vista.
Casa verde, número 135. Apareça lá para batermos um bom papo. Hoje nós estamos
com pressa. Minha esposa tem hora marcada no dentista.
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Beleza, cara. No próximo sábado à tarde chego lá. Tchauzinho! Bom final de
semana.
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Obrigado, igualmente! Até sábado, amigo.
Peguei
um pacote de açúcar e me deparei outra vez com o cara fazendo gesto para mim.
Pensei: “Será que ele é homossexual e está me assediando?” Peguei um
pacote de feijão e um de arroz. Olhei para o lado e percebi que o rapaz continuava
me seguindo. Pensei: “Será que esse maluco quer me roubar?” Ele apressou
o passo em minha direção e falou:
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Senhor, por favor, espere!
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Eu? O que é? Por que está me seguindo?
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O senhor não está esquecendo alguma coisa? ___ perguntou ele.
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Eu não. Estou levando tudo o que minha esposa pediu.
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Não me refiro às compras, mas sim à sua máscara. Cadê a sua máscara? Sabia que
o senhor pode ser multado por colocar a sua vida e a vida de outras pessoas em
risco? Esqueceu que estamos em pleno pico da pandemia?
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Você está maluco, cara? ___ perguntei ___ Ou por acaso é cego? Eu estou usando
máscara, sim! Vou mostrar a máscara para
você bem de perto.
Levei
a mão ao rosto...
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Ué! Cadê a minha máscara? Eu juro que pus a máscara antes de sair de casa!
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Da próxima vez, faça o favor de dar atenção a quem o interpela. Eu vou lhe
emprestar uma máscara, pois o senhor não pode permanecer dentro do supermercado
sem seguir o protocolo de prevenção à COVID. Desta vez o senhor está sendo
orientado. Preencha esta notificação com seu nome completo, CPF e endereço.
Depois assine, por favor! Se houver reincidência, será multado em 500,00 reais
por cada infração.
Fiquei
muito envergonhado. Não sabia onde enfiar minha cara. Várias pessoas olhavam em
nossa direção. Que vexame, meu Deus!
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Aqui está a notificação preenchida e assinada, moço. Por favor, desculpe-me!
Não sei o que houve com a minha cabeça. Eu tinha certeza de que estava de
máscara.
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De hoje em diante, senhor, tenha sempre consigo máscaras e álcool gel. É
preciso ser consciente de sua responsabilidade: proteger a sua saúde, a saúde
de sua família e de todas as outras pessoas que cruzam o seu caminho. A COVID
não é só uma gripezinha. Este vírus já matou mais de 450 mil brasileiros,
senhor!
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Muito obrigado! Desculpe-me, por favor! Sinceramente, não sei como isto
aconteceu comigo. Eu era capaz de jurar que estava de máscara. Que cabeça a
minha!
Depois
dessa gafe, nem terminei as compras. Tratei de sumir daquele mercado o quanto
antes. Eu estava vermelho de vergonha. O funcionário estava certo e eu fazendo
mau juízo dele. Pelo jeito a minha memória já não está lá “aquelas coisas...”
Aluno: Roger
Maçaneiro
7.º ano
II – Crônica reescrita – 28/05/2021
Disciplina:
Língua Portuguesa
Professora
Walterlin F. Kotarski