Certo dia, a garotinha Ana, de dez anos, foi tomar seu banho de rotina. Tirou suas roupas e foi para debaixo do chuveiro. De repente, ao olhar para a sua perna direita, ela percebeu uma mancha branca, que nunca tinha visto antes. Ana ficou preocupada e assustada ao mesmo tempo, porém resolveu terminar o seu banho. Assim que ela saiu do chuveiro, chamou a sua mãe, Dona Júlia:
___ Mamãe! Mamãe!!!
Dona Júlia correu
para saber do que se tratava.
___ O que foi Ana?
Por que está me chamando?
___ Veja a minha
perna, mamãe! Apareceu esta mancha branca! O que é isto?
___ Deixe-me ver,
Ana! É uma mancha parecida com vitiligo, filha.
___ Vi-ti-li-go? O
que é isso, mãe?
___ É uma doença de
pele, Ana.
___ Mãe, eu não
quero ter a pele manchada! ___ disse Ana choramingando.
___ Calma, filha!
Nem temos certeza se é realmente essa doença! Vou marcar uma consulta com o
dermatologista ___ disse Dona Júlia, consolando a filha.
Passou-se uma semana
e Ana, olhava a sua perna várias vezes por dia. Infelizmente, a mancha estava
ficando maior.
Alguns dias depois,
Dona Júlia conseguiu marcar a consulta com o Dr. Ivo. Na hora da consulta, Ana
estava muito ansiosa e com medo. O médico requisitou vários exames para
identificar o diagnóstico. Vinte dias depois, os exames ficaram prontos e o
resultado foi confirmado, era vitiligo.
Ana ficou
desesperada e chorou muito, pois ele temia que as manchas fossem se alastrando
para outras partes do seu corpo.
Um ano se passou,
algumas novas manchas surgiram na mesma perna de Ana, mas Dona Júlia seguia
todas as recomendações médicas. Ana passou para o sexto ano e precisou mudar de
turma, passando a conviver com novos colegas. A partir daí, começou um
verdadeiro pesadelo em sua vida. Ana nunca sentiu necessidade de esconder o seu
corpo. Nunca costumava usar sua calça comprida do uniforme da escola em dias
quentes, pois preferia usar o seu short-saia. No entanto, certo dia numa aula
de Educação Física, Diogo, o colega mais bagunceiro da turma, aproximou-se da
menina e disse-lhe em tom de sarcasmo:
___ Credo, Ana, não
sabia que meninas manchadas podem usar shortinho!
A fala
preconceituosa de Diogo disparou em Ana um gatilho de complexo e rejeição. Chegou
em casa chorando e imediatamente vestiu uma calça comprida. Daquele dia em
diante, ela passou a olhar para suas manchas várias vezes por dia. Ana foi se
fechando, já não sorria mais nem se divertia com as amigas. O seu pensamento
mantinha-se fixo em suas manchas. “Por que estas malditas manchas saíram no
meu corpo? Por que, meu Deus? Eu não me conformo com isto!” ___ pensava
Ana dia e noite.
Dona Júlia ficava
cada dia mais preocupada com a mudança de comportamento da filha. Certo dia,
Ana, inconformada, perguntou à sua mãe:
___ Por que esta
maldição aconteceu justo em mim, mãe?
___ Que maldição,
Ana? Que pergunta é essa, menina?
___ Essas manchas,
mãe! Eu não gosto mais de mim. Tenho onze anos e sofro bullying na escola todos
os dias. Estou cansada disso! ___ queixou-se Ana chorando.
Dona Júlia, com os
olhos cheios de lágrima respondeu:
___ Ana, preste
muita atenção no que eu vou lhe perguntar agora, filha: Essas manchas a impedem
de correr?
___ Não! ___
respondeu Ana, com o rosto vermelho de tanto chorar.
___ Essas manchas a
impedem de brincar, de jogar vôlei ou de você se divertir com suas amigas? ___
insistiu Dona Júlia.
___ Não, mãe! Não me
impedem de fazer tais coisas ___ respondeu Ana, com a voz trêmula.
___ Pense nisto ___
disse Dona Júlia, saindo do quarto de Ana.
Ana ficou sozinha,
pensando nos questionamentos de sua mãe. Algum tempo depois, ela colocou seu
rosto sobre o travesseiro e começou a chorar, falando baixinho:
___ Perdão, meu
Deus! Perdão, mamãe, por eu ter reclamado tanto por causa de um problema tão
pequeno. Apenas uma falha estética, que não me impede de aproveitar a vida com
alegria e entusiasmo.
Após o jantar, Ana
foi conversar com sua mãe na sala de estar.
___ Mamãe, posso
falar com a senhora?
___ Mas é claro,
filha! Fale-me tudo o que você quiser. Desabafe, minha querida ___ disse Dona
Júlia.
___ Pensei muito
sobre os questionamentos que a senhora me fez, hoje à tarde. A senhora está
certa. Estas manchas que saíram na minha perna não me impedem de fazer tudo o
que eu gosto. Não me impedem de estudar, nem de ser alegre, nem de eu ser
feliz. Perdoe-me, mamãe, por ter feito a senhora sofrer ao me ver triste e me
lamentado pelos cantos. De hoje em diante, quero ter orgulho do meu corpo como
ele é. Afinal, as marcas que eu tenho contribuem para eu ser quem sou: única,
diferente, especial e feliz.
Dona
Júlia abraçou a filha com força e disse:
___
Isso mesmo, minha filha! Estou muito orgulhosa de você. Estou tão feliz por
você não permitir que um detalhe tão pequeno estrague a sua vida. Assumindo a
sua própria identidade e tendo orgulho de ser como você é, certamente você fará
cair por terra o preconceito e o bullying. Faça valer o seu direito de ser feliz
com suas características especiais. Parabéns, filha! Você é muito corajosa e
sensata. Eu a amo muito, muito ___ concluiu Dona Júlia, dando um beijo no rosto
de sua amada filha.
___
Obrigada pelo seu apoio, mamãe! A senhora me ajudou a perceber que eu sou mais
importante do que algumas manchas de vitiligo na minha perna.
9.° ano I – Conto – Data: 15/03/2022
Professora Walterlin F. Kotarski – Língua Portuguesa
Núcleo Educacional Jornalista Hermínio Milis