Pesquisar este blog

terça-feira, 12 de abril de 2011

Telefone público, vulgo orelhão.


Aconteceu em 2001, num dia em que precisei telefonar, quando o celular ainda não tinha descido da nobreza à plebe. Pois é, naquela época eu não tinha celular e tive que usar o orelhão.

Rapidamente encontrei um, na esquina da rua onde moro, mas quem disse que consegui falar? Não, o problema não era no aparelho, era em quem usou o aparelho antes de mim. O cheiro do fone era uma mistura de sopa de cigarro com pinga, eu não consegui usá-lo. Foi então que tive uma ideia meio Shakespereana: “Limpo ou não limpo, eis a questão!” Voltei para casa contra gosto e, munida de pano e desinfetante, voltei ao orelhão.

Comecei pelo fone, no lado inferior, na cápsula transmissora, onde o cheiro forte predominava. Aos poucos, foi ficando com cheirinho de limpeza e, como me empolguei, resolvi fazer o serviço completo. Tirei todo o pó, desinfetei tudo, teclas, caixa, cabine... Aliás, se tivesse uma enxada, certamente carpiria todo o local e ainda plantaria umas flores, colocaria umas pedras, faria uma linda entrada com um portal em forma de arco, escrito: “Bem-vindo ao orelhão”. Poderia também ter uma fonte com um querubim fofinho fazendo xixi, o qual se derramaria num lago onde se poderiam apreciar alguns peixinhos vermelhos e amarelos nadando muito serelepes, buscando alguma comida.

Talvez o leitor esteja pensando que agora “viajei na maionese” com essa de cascata com peixinhos e tudo. Exageros à parte, só posso dizer uma coisa sobre essa minha experiência na limpeza pública: naquele dia eu voltei para casa sentindo-me feliz e realizada, com a sensação de que fiz algo pela comunidade. Numa visão mais ampla, diria que fiz algo pela humanidade!

No fim da tarde, eu ainda estava pensando no acontecido e imaginando como seria lindo um lugar assim, um orelhão, uma bela praça com calçadinhas cheias de curvas e flores por todos os lados... “Imagine! É fácil, se você tentar” __ dizia Lennon. Acho que sou uma sonhadora, mas posso não ser a única. Vamos sonhar juntos com “nossos bosques com mais vida, e nossa vida com mais amores”. Acho que podemos fazer do mundo um lugar melhor para viver.

Quando contei tudo isso ao meu marido, ele me disse que um lugar assim é possível, mas só em Nova Jerusalém. Então, fiquei pensando: “Será que lá no céu também tem orelhão?

Professora Eliane Lídia Córsico Tomal

Outubro de 2010

Nenhum comentário:

Postar um comentário