Era época de colheita na Fazenda Esperança. Seu Leopoldo, o proprietário, já era idoso e tinha as mãos calejadas pela lida diária no campo desde a sua infância. Apesar das dificuldades, ele amava ser agricultor e criador de gado. Seu maior sonho era que o seu neto Leonardo assumisse o seu lugar e fizesse a fazenda prosperar ainda mais. Seu Leopoldo tinha também três netas, mas, segundo a tradição, era natural que os homens da família fossem os sucessores dos mais velhos na propriedade.
No seu íntimo, Seu
Leopoldo sentia um misto de tristeza e decepção, pois o neto Leonardo nunca
demonstrava interesse pelos afazeres da fazenda. Era a sua neta Rosa, a caçula,
que sempre estava junto com ele, ajudando-o em tudo o que fosse necessário.
Desde pequena, Rosinha acordava cedo, tomava o café da manhã com o avô e os
dois saíam juntos para tratar os animais, recolher os ovos, tirar leite e,
depois, iam para a roça. Rosinha sempre estava tagarelando e bem-disposta.
___ Vovô, quando
eu for adulta, quero ser como você. Adoro trabalhar nesta fazenda, pois ela nos
dá tudo o que precisamos para viver.
___ Rosinha, eu
gosto muito de sua companhia, mas este trabalho não é para mulher. Você e suas
irmãs deverão ir para a capital e se formar numa universidade. O serviço da
fazenda deve ficar para o Leonardo ___ retrucava seu Leopoldo.
___ O senhor ainda
vai me ver dirigindo trator e plantando soja ___ insistia Rosinha.
O tempo passou,
Rosinha e suas irmãs concluíram o Ensino Médio e não houve jeito de ficarem na
fazenda. Seu Leopoldo insistiu tanto, que convenceu a sua filha Ana e as três
netas a se mudarem para a capital para estudar.
A neta Talia decidiu cursar Pedagogia, Joana escolheu Ciência da
Computação, pois adorava tecnologia, e Rosa escolheu Agronomia, pois continuava
firme no propósito de trabalhar na fazenda como o seu avô.
Enquanto as netas
estudavam na capital, seu Leopoldo foi enfraquecendo e já não tinha o mesmo
vigor para o trabalho. Leonardo não se dedicava à fazenda, vivia falando que
iria embora para São Paulo e a produção foi diminuindo a cada ano.
As três irmãs se
formaram na mesma época. Talia e Joana conseguiram bons empregos na capital,
mas Rosa não conseguiu trabalho na cidade e só pensava em voltar para a
fazenda. Certo dia, aborrecida, Rosa comunicou sua decisão à sua mãe e às
irmãs:
___ Vou voltar
para a fazenda. Meu lugar é lá, junto com o vovô.
___ Rosa, pense
bem ___ argumentou Joana ___ na fazenda você não vai progredir. Vai passar sua
vida inteira plantando, colhendo e tratando dos animais. Na fazenda você nunca
terá folga, além de trabalhar debaixo de sol e de chuva. Aqui na capital a vida
é bem melhor, garota.
Rosa permaneceu
calada, mas no seu íntimo sabia que poderia conquistar seu sucesso na fazenda.
Enquanto isso, Leonardo vendera mais um trator sem o consentimento do seu avô. Pegou
o dinheiro e deixou apenas um bilhete em cima da mesa da cozinha: “Vovô, estou
indo para São Paulo. Não aguento mais ficar aqui nesta fazenda. Não nasci para
viver no campo. Vou abrir uma lanchonete lá em São Paulo. Gosto do movimento de
cidade grande. Fui. Seu neto, Leonardo”.
Depois de ler o
bilhete do neto e descobrir a falta do trator, seu Leopoldo passou mal. A
empregada da casa avisou a filha e as netas que ele fora internado em estado
grave. Rosa imediatamente disse às irmãs:
___ Aqui não fico mais.
Vou cuidar do vovô e da fazenda. Ele sempre foi o meu melhor amigo e
companheiro.
___ Você vai se
arrepender dessa decisão, Rosa.
___ Vocês não vão
conseguir me deter. Volto para a fazenda hoje mesmo.
Ao chegar no
hospital, Rosa ainda pôde ouvir o seu avô.
___ Que bom que
você veio, Rosa! Eu estava com medo de que você não chegasse a tempo.
___ Que é isso,
vovô? O senhor ainda vai viver muito tempo.
___ Não, querida.
Eu sei que me restam poucos minutos...
___ Não diga isto,
vovô, por favor!
___ Rosinha, o
Leonardo me decepcionou muito! Perdoe-me minha neta querida. Eu sempre lhe
dizia que a lida da fazenda não era para mulher. Precisei me aborrecer muito
com as trapaças do meu neto para reconhecer a sua dedicação e o seu amor pela
nossa fazenda.
___ Vai ficar tudo
bem, vovô. Nós ainda seremos uma dupla imbatível na Fazenda Esperança.
___ Tenho pouco
tempo, Rosinha. Ouça-me, por favor. Eu sei que posso confiar em você, minha
neta. Eu fiz um testamento deixando a fazenda para você. Também deixei uma boa
quantia em dinheiro para você investir em seu sonho, Rosinha.
Seu Leopoldo
começou a tossir e se engasgou.
___ Vovô, por
favor, descanse. Não faça esforço...
___ Rosinha,
procure o advogado Leôncio. Ele está a par de tudo. Bom trabalho, Rosinha. Adeus...
Seu Leopoldo
tossiu por mais uns instantes e silenciou para sempre.
___ Vovô! Vovô,
não me deixe, por favor!
A enfermeira
chamou o médico, mas Seu Leopoldo já estava morto.
Uma semana depois,
Rosa procurou o advogado para os trâmites legais. Um mês depois, Maria Teresa e
Odete, ex-colegas de faculdade, foram até a fazenda fazer uma proposta de
trabalho. As três amigas fizeram um contrato. Maria Teresa ficou responsável
pela produção e venda de hortaliças e frutas. Odete assumiu a criação de gado e
a produção de leite, pois era médica veterinária e zootecnista. Rosa ficou
responsável pela produção de milho e de soja. Dona Ana, mãe de Rosa, continuou
morando na capital e atuava no mercado agropecuário negociando os produtos da
Fazenda Esperança.
Durante algum
tempo, as quatro mulheres eram motivo de chacota dos outros fazendeiros da
região. Porém, nenhuma delas se deixava abater pelo preconceito dos
fazendeiros. Aumentaram o número de estufas para a produção de hortaliças.
Equiparam os estábulos com mais ordenhadeiras. Reformaram as instalações e
financiaram uma colheitadeira e um trator. Rosa e suas amigas, controlavam
muito bem o custo da produção e os valores que entravam em caixa. Em três anos,
a Fazenda Esperança se reergueu e tornou-se competitiva no mercado
agropecuário. Já não se ouvia piadinhas e chacotas com o nome das quatro
fazendeiras. Pelo contrário, elas passaram a ser referência no mercado.
Na fazenda
Esperança tem mulher trabalhando com trator, tem mulher operando colheitadeira,
tem mulher acompanhando a ordenha, tem mulher administrando e ganhando muito
dinheiro. Rosa sempre comenta que sente a presença do seu avô passando uma
energia boa e inspirando as talentosas mulheres que deram continuidade à
história da família.
Atualmente, Talia
e Joana sentem uma pontinha de ciúme de Rosa, a mulher que quebrou o tabu da
família que não acreditava na capacidade de suas mulheres conquistarem o
sucesso e a riqueza no ramo agropecuário. Agora são elas que esbanjam a sua
elegância e bom gosto. Usam chapéus, botas, calça jeans e camisa. Quando saem a
passeio usam maquiagem, belos vestidos e joias. Essas mulheres batalhadoras
podem tirar férias e até viajar para o exterior. Além disso, geram dezenas de
empregos no campo. Enfim, um viva às mulheres fazendeiras.
Aluna: Bruna Karoline
Borges
9.º ano - Conto reescrito - 18/06/2021
Disciplina: Língua Portuguesa –
Professora Walterlin F. Kotarski
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