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quarta-feira, 6 de abril de 2022

A menina e o vitiligo

 

Certo dia, a garotinha Ana, de dez anos, foi tomar seu banho de rotina. Tirou suas roupas e foi para debaixo do chuveiro. De repente,  ao olhar para a sua perna direita, ela percebeu uma mancha branca, que nunca tinha visto antes.   Ana ficou preocupada e assustada ao mesmo tempo, porém resolveu terminar o seu banho. Assim que ela saiu do chuveiro, chamou a sua mãe, Dona Júlia:

___ Mamãe! Mamãe!!!

Dona Júlia correu para saber do que se tratava.

___ O que foi Ana? Por que está me chamando?

___ Veja a minha perna, mamãe! Apareceu esta mancha branca! O que é isto?

___ Deixe-me ver, Ana! É uma mancha parecida com vitiligo, filha.

___ Vi-ti-li-go? O que é isso, mãe?

___ É uma doença de pele, Ana.

___ Mãe, eu não quero ter a pele manchada! ___ disse Ana choramingando.

___ Calma, filha! Nem temos certeza se é realmente essa doença! Vou marcar uma consulta com o dermatologista ___ disse Dona Júlia, consolando a filha.

Passou-se uma semana e Ana, olhava a sua perna várias vezes por dia. Infelizmente, a mancha estava ficando maior.

Alguns dias depois, Dona Júlia conseguiu marcar a consulta com o Dr. Ivo. Na hora da consulta, Ana estava muito ansiosa e com medo. O médico requisitou vários exames para identificar o diagnóstico. Vinte dias depois, os exames ficaram prontos e o resultado foi confirmado, era vitiligo.

Ana ficou desesperada e chorou muito, pois ele temia que as manchas fossem se alastrando para outras partes do seu corpo.

Um ano se passou, algumas novas manchas surgiram na mesma perna de Ana, mas Dona Júlia seguia todas as recomendações médicas. Ana passou para o sexto ano e precisou mudar de turma, passando a conviver com novos colegas. A partir daí, começou um verdadeiro pesadelo em sua vida. Ana nunca sentiu necessidade de esconder o seu corpo. Nunca costumava usar sua calça comprida do uniforme da escola em dias quentes, pois preferia usar o seu short-saia. No entanto, certo dia numa aula de Educação Física, Diogo, o colega mais bagunceiro da turma, aproximou-se da menina e disse-lhe em tom de sarcasmo:

___ Credo, Ana, não sabia que meninas manchadas podem usar shortinho!

A fala preconceituosa de Diogo disparou em Ana um gatilho de complexo e rejeição. Chegou em casa chorando e imediatamente vestiu uma calça comprida. Daquele dia em diante, ela passou a olhar para suas manchas várias vezes por dia. Ana foi se fechando, já não sorria mais nem se divertia com as amigas. O seu pensamento mantinha-se fixo em suas manchas. “Por que estas malditas manchas saíram no meu corpo? Por que, meu Deus? Eu não me conformo com isto!” ___ pensava Ana dia e noite.

Dona Júlia ficava cada dia mais preocupada com a mudança de comportamento da filha. Certo dia, Ana, inconformada, perguntou à sua mãe:

___ Por que esta maldição aconteceu justo em mim, mãe?

___ Que maldição, Ana? Que pergunta é essa, menina?

___ Essas manchas, mãe! Eu não gosto mais de mim. Tenho onze anos e sofro bullying na escola todos os dias. Estou cansada disso! ___ queixou-se Ana chorando.

Dona Júlia, com os olhos cheios de lágrima respondeu:

___ Ana, preste muita atenção no que eu vou lhe perguntar agora, filha: Essas manchas a impedem de correr?

___ Não! ___ respondeu Ana, com o rosto vermelho de tanto chorar.

___ Essas manchas a impedem de brincar, de jogar vôlei ou de você se divertir com suas amigas? ___ insistiu Dona Júlia.

___ Não, mãe! Não me impedem de fazer tais coisas ___ respondeu Ana, com a voz trêmula.

___ Pense nisto ___ disse Dona Júlia, saindo do quarto de Ana.

Ana ficou sozinha, pensando nos questionamentos de sua mãe. Algum tempo depois, ela colocou seu rosto sobre o travesseiro e começou a chorar, falando baixinho:

___ Perdão, meu Deus! Perdão, mamãe, por eu ter reclamado tanto por causa de um problema tão pequeno. Apenas uma falha estética, que não me impede de aproveitar a vida com alegria e entusiasmo.

Após o jantar, Ana foi conversar com sua mãe na sala de estar.

___ Mamãe, posso falar com a senhora?

___ Mas é claro, filha! Fale-me tudo o que você quiser. Desabafe, minha querida ___ disse Dona Júlia.

___ Pensei muito sobre os questionamentos que a senhora me fez, hoje à tarde. A senhora está certa. Estas manchas que saíram na minha perna não me impedem de fazer tudo o que eu gosto. Não me impedem de estudar, nem de ser alegre, nem de eu ser feliz. Perdoe-me, mamãe, por ter feito a senhora sofrer ao me ver triste e me lamentado pelos cantos. De hoje em diante, quero ter orgulho do meu corpo como ele é. Afinal, as marcas que eu tenho contribuem para eu ser quem sou: única, diferente, especial e feliz.

Dona Júlia abraçou a filha com força e disse:

___ Isso mesmo, minha filha! Estou muito orgulhosa de você. Estou tão feliz por você não permitir que um detalhe tão pequeno estrague a sua vida. Assumindo a sua própria identidade e tendo orgulho de ser como você é, certamente você fará cair por terra o preconceito e o bullying. Faça valer o seu direito de ser feliz com suas características especiais. Parabéns, filha! Você é muito corajosa e sensata. Eu a amo muito, muito ___ concluiu Dona Júlia, dando um beijo no rosto de sua amada filha.

___ Obrigada pelo seu apoio, mamãe! A senhora me ajudou a perceber que eu sou mais importante do que algumas manchas de vitiligo na minha perna.

 

Aluna: Letícia Kauane dos Santos
9.° ano I – Conto – Data: 15/03/2022
Professora Walterlin F. Kotarski – Língua Portuguesa
Núcleo Educacional Jornalista Hermínio Milis