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domingo, 31 de agosto de 2025

Resenha: Uma vela para Dario



 RESENHA 

Título: Uma vela para Dario.

Autor: Dalton Trevisan



A crônica “Uma vela para Dario”, de Dalton Trevisan, trata da morte de Dario, que passou mal na rua e foi vítima de imprudência, imperícia e furtos, sendo abandonado na frente de uma peixaria. Quando a polícia chegou, foi impossível identificá-lo, pois até seus documentos foram retirados pelos curiosos.

Nas entrelinhas do texto, Dalton Trevisan critica a falta de preparo das pessoas para prestar os primeiros socorros a uma vítima. Dario foi arrastado, mal-atendido, pisoteado e abandonado na rua, onde agonizou até morrer. O autor  também critica a desvalorização da vida humana ao usar a frase: “Apenas um homem morto e a multidão se espalhou”.

Dalton faz a narrativa usando uma linguagem que provoca reflexão e mexe com os sentimentos do leitor, pois a tristeza é o pano de fundo da crônica desde o início até o fim. Todos os pertences de Dario foram roubados pelos curiosos, mas, em nenhum momento, a palavra “roubo” foi citada no texto, o que demonstra a habilidade do escritor de dizer muito mais do que expressou em palavras. Essa técnica permite ao leitor perceber a indiferença, a dureza dos sentimentos humanos, a falta de compaixão e de empatia, a falta de escrúpulos dos curiosos ao roubar uma pessoa totalmente sozinha e vulnerável na rua.

No final do texto, o autor cita duas pessoas generosas: um senhor piedoso, que despiu o paletó de Dario e o colocou sob a cabeça do moribundo, em sinal de respeito e dignidade e um menino negro, que acendeu uma vela e a colocou ao lado do cadáver, fazendo-nos percebar que são poucas as pessoas que praticam a compaixão, a solidariedade e realmente se importam com o seu próximo.

O autor também critica a ineficácia dos órgãos competentes, pois Dario levou duas horas para morrer e, três horas depois, o rabecão ainda não havia recolhido o seu corpo, que já estava desbotado pela chuva.

Recomendo a leitura pelo estilo do autor e pela sua perspicácia ao criticar e provocar reflexões no leitor de um modo tão peculiar e envolvente.



Resenhista: Professora Walterlin Forostecky Kotarski


domingo, 10 de agosto de 2025

Resenha: Crônica Carniça

 

RESENHA:

Crônica: CARNIÇA

Autor: Domingos Pellegrini


A crônica “CARNIÇA”, de Domingos Pellegrini, fala sobre o mau cheiro causado pelo cadáver de um cachorro, que havia sido atropelado há uma semana e ninguém tomava providências para resolver o problema. Dois alcoólatras esperam o Bar do Tião abrir no início da manhã, enquanto falam sobre o incômodo causado aos moradores pelo mau cheiro da carniça. Um terceiro personagem, ao voltar de sua corrida matinal, empresta uma pá de uma loja de construção, enterra o cachorro e o problema, enfim, é resolvido.

De forma implícita, Domingos Pellegrini tratou de assuntos sérios e criticou alguns comportamentos presentes na sociedade brasileira, tais como o alcoolismo, a falta de iniciativa da população e o pensamento equivocado de que apenas o poder público é responsável pela solução de todos os problemas que surgem no dia a dia de uma cidade. Os alcoólatras criticam a prefeitura, questionam, fofocam, mas não tomam nenhuma atitude positiva para eliminar o odor cadavérico. Enquanto isso, um transeunte deu um bom exemplo de cidadania ao acabar com o mau cheiro que incomodava a todos os que passavam pelo local. Além disso, a crônica provoca uma reflexão a respeito de como o vício prejudica a vida de pessoas dependentes, impedindo-as de melhorar suas condições de vida, submetendo-as à pobreza, à falta de higiene pessoal e à baixa autoestima, mantendo-as em situação degradante, que causa muito sofrimento a si e aos seus familiares.

O cronista usou uma linguagem informal com registros próprios da oralidade, retratando o falar de pessoas simples, com baixo grau de estudo e incrementou o humor usando as metáforas “cara de veja-só” e “cara de não-sei”, para prender a atenção do leitor e tornar a leitura mais agradável.

Recomendo a leitura da crônica pelo estilo original do autor e pela sua perspicácia ao associar o humor à crítica com delicadeza, sem deixar de provocar reflexões no leitor sobre situações que fazem parte do dia a dia da sociedade brasileira.


Professora Walterlin Forostecky Kotarski

08 de agosto de 2025