Pesquisar este blog

domingo, 2 de julho de 2023

Edineuza, a gata deusa

 

Eu sou a Edineuza, uma gata de rua, com pelos distribuídos em manchas brancas, amarelas e pretas. Fui abandonada quando ainda era pequena. Nunca soube como eram os meus donos, mas isso não tinha importância para mim.

Na cidade onde eu fui abandonada havia casas muito próximas umas das outras, becos e ruas estreitas entre os prédios. A construção de casas térreas foi abandonada e a maioria dos imóveis eram prédios, sendo que muitos deles estavam desgastados por serem muito antigos.

Os poderosos da cidade moravam num prédio histórico, eram de famílias tradicionais, cuja cultura e costumes passavam de geração para geração.

Numa colina havia uma mansão, cujos donos pareciam não serem normais, pois eram muito estranhos e evitavam contatos com os outros moradores.  O jardim da mansão era o único lugar onde havia um belo gramado e alguns arbustos floridos. As paredes eram brancas e os muros altos. O patriarca da mansão era um homem alto, que usava um terno preto, camisa branca e gravata preta. O seu comportamento era estranho, vivia preocupado como se estivesse escondendo algum segredo. 

A matriarca e seus três filhos tinham cabelos negros, usavam roupas escuras e preservavam os costumes de seus antepassados. Pareciam ser ingênuos e submissos, pois cumpriam todas as ordens do patriarca.

No pátio da mansão, eu sempre via um cachorro enorme, com andar cambaleante e esquisito. Não parecia ser um animal de estimação. Quando não se sentia observado, o cachorro gostava de agir como um ser humano. Isto me intrigava muito e, ao mesmo tempo, eu sentia medo de adentrar o pátio da mansão. Por isso, eu observava tudo de longe. 

Eu era uma gata desconhecida na cidade e minha vida era muito solitária. Ninguém notava a minha presença. Eu era simplesmente ignorada por todos. A cidade, para mim, era rodeada de segredos. Havia muita coisa para eu explorar naquele lugar. Há dias, eu não comia nada, estava fraca e desnutrida. Então, decidi ir procurar comida nas lixeiras dos becos, mas quando eu cheguei a uma lixeira amarela, vi que ela estava toda arranhada e com uma substância vermelha. Fiquei apavorada, mas decidi pensar que aquilo era um pouco de ketchup ou geleia de morango. Mas, por precaução, resolvi não experimentar aquilo. Logo depois, percebi que havia uma trilha daquela substância estranha que se estendia até a rua principal, que era usada para sair e entrar na cidade. A trilha continha pegadas muito esquisitas. Continuei observando e percebi que aquilo não poderia ser geleia. Caminhei mais um pouco, então vi sangue nas paredes dos prédios e latas de lixo viradas e quebradas. Olhei para trás e vi um homem encapuzado, que estava jogando alguma coisa com a mesma substância vermelha, numa lata de lixo. Após isso, ele chamou alguma coisa que parecia ser um cachorro.  Naquele momento, apurei o olhar e reconheci o cachorro que vivia no pátio da mansão. Decidi segui-los e eles entraram no pátio da mansão e continuaram conversando perto do portão. O homem encapuzado dizia que eles precisavam encontrar a oferenda para o pacto estar completo.

Decidi correr para me esconder na garagem da mansão, pois lá, além de um carro, havia potes com restos de comida do jantar. Eu comecei a saborear a comida e depois me escondi embaixo do carro, pois não daria tempo de eu escapar. O homem encapuzado chegou com um saco e retirou o que tinha dentro. Então eu percebi que, na verdade, aquele homem era o patriarca dos moradores da mansão. O saco continha membros humanos. De onde ele os tinha trazido? Então, o homem disse:

— Eu não acredito! Eu matei todas aquelas pessoas, mas nenhuma delas era dona daquela gata! Parece que ela, mesmo assim, conseguiu fugir. Aquela gata não é normal e ela pode ser mais poderosa do que se imagina! Se não a encontrarmos o pacto não será cumprido.

Depois disso, o homem fechou o portão da garagem e eu fiquei quieta, sem me mexer. Fechei meus olhos para evitar que eles brilhassem no escuro. Fiquei escondida debaixo do carro até às três horas da manhã. Quando o cachorro dormiu, eu aproveitei a oportunidade e fugi pela janela da garagem. Mas quando eu pulei o muro, deparei-me com o homem encapuzado à minha procura. Então, corri o mais rápido que eu pude, enquanto o homem gritava para o cachorro:

— É ela! Vá pegá-la e o pacto estará completo!

O portão se abriu e eu pude ver o cachorro revelando sua verdadeira forma, que era macabra, com longos braços e pernas, olhos esbugalhados e uma boca enorme. Seus pelos eram negros e arrepiados. Corria de uma forma assustadora e gritava de uma forma perturbadora. O estranho ser começou a me perseguir pelos corredores estreitos, que pareciam labirintos confusos. Corri, desviei-me, fui para um lado, fui para outro, até que me deparei com um beco. Eu estava cercada e a criatura se aproximava rapidamente. Quando a criatura estava quase me alcançando, escalei uma parede e fui para o telhado de um prédio. Porém, para meu azar, a criatura também sabia escalar. Fui perseguida no telhado de vários prédios até que eu cheguei num prédio abandonado. Eu fui subindo e consegui passar para uma sacada de madeira, que estava muito frágil.

Do outro lado, havia uma casa bem alta. Então, andei com calma para não quebrar o piso. Eu estava quase conseguindo transpor a sacada, mas a criatura estava prestes a pular e, quando saltou com suas garras quase me alcançando, dei um salto para a varanda da casa. A criatura quebrou o assoalho de madeira e caiu de uma altura muito grande, dando um grito tenebroso. Essa criatura não era deste mundo e não sei se ela sobreviveu à queda, é um verdadeiro mistério.

Quando eu pensei que tudo havia acabado, duas mãos me puxaram rapidamente para dentro da casa pela porta da varanda. Virei meu pescoço e vi uma simpática senhora e uma placa com a palavra VIDENTE. Então, ela disse que me conhecia e que eu era especial. Ela contou-me que eu era uma deusa que reencarnou no corpo de uma gata, a qual tinha a missão de retomar os poderes dela na Terra. Disse também que eu fui descoberta por um cara mau, que invocava uma entidade maligna vinda do inferno. Essa entidade era conhecida como Skinwalker, sendo invocada facilmente, bastando pronunciar três vezes o seu nome.

─ Essa criatura pode se disfarçar de pessoa ou animal e tem o objetivo de matá-la ─ disse a VIDENTE ─ esse homem quer fazer um pacto em troca da realização de um desejo dele. Uma das oferendas para o ritual era o corpo da mulher mais poderosa da cidade e a outra era a deusa que reencarnou em forma de gata aqui na Terra.

─ Por que a deusa reencarnou aqui na Terra? ─ perguntei, e a simpática vidente começou a explicar:

— Eu, a VIDENTE, era uma bela moça e morava aqui há pouco tempo. Ocorreu o desaparecimento da poderosa mulher desta cidade, Dona Izadir, que fora considerada morta, pois seu corpo nunca foi encontrado. Uma nova família tinha se mudado para cá, pois faria parte do grupo dos poderosos. Seu patriarca era um sujeito estranho e eu sentia que uma energia ruim emanava dele. Em compensação a matriarca era gente boa e eu pedi para ela me contratar para eu ser a faxineira da mansão. Fui contratada e comecei a trabalhar à noite. Então, vi o patriarca entrando numa passagem secreta que havia na mansão. A esposa dele passou por mim e perguntou pelo seu marido, mas eu não lhe disse que o vira entrar na passagem secreta e a mulher foi para quarto dela. Então, eu decidi esconder-me e ficar vigiando. Alguns minutos depois, o homem retornou e deixou a porta secreta apenas encostada. Esperei ele se afastar e fui bisbilhotar o que havia naquele local sombrio. Sobre uma mesa encontrei esta anotação: “Antigos poderosos da cidade: 1991-2023”. Num outro papel estava escrito: “Há anos estou tentando ser o poderoso número 01 desta cidade. Quero encontrar aquela gata para, enfim, o pacto ser concluído. É difícil esconder isto da minha família, mas estou tão perto de conseguir meu objetivo. Se eu não cumprir o pacto na madrugada do dia 14, coisas ruins podem acontecer com esta cidade. que se tornará um verdadeiro inferno”. Atrás dessa folha de papel estava o nome da antiga poderosa da cidade, Dona Izadir, circulado junto da sua data de morte e da data de amanhã, dia 14, com uma anotação escrita dizendo "RITUAL".

Eu, VIDENTE, sabia que os rituais ocorriam entre meia-noite e três horas da manhã. Então, fiquei acordada, esperando o ritual acontecer. À meia-noite, o homem saiu com seu carro e voltou com o corpo de Dona Izadir e com uma gatinha, que era você, a deusa que foi ao um mundo desconhecido, com o objetivo de ampliar os seus poderes. Eu sabia das consequências, mas não poderia deixar ele concluir o pacto, pois ele poderia acabar com uma deusa importante que gera o conhecimento do bem e do mal. Sem ela, todos seriam consumidos pelo mal e toda a Terra estaria condenada. Eu peguei você no colo, Edineuza, e saí correndo. Escondi-me na minha casa antiga e fiquei por lá. Mas a Terra estava com o tempo distorcido, pois o inferno tomou parte dela por causa da maldade e da violência humana. Então eu envelheci rápida e precocemente. Um dia depois de eu envelhecer, tive um sonho me alertando que eu deveria subir até o ponto mais alto da cidade e deixar você, gatinha, entregue à sua própria sorte, pois o tempo estava distorcido e você também iria envelhecer e se tornar uma adulta que, na hora certa, viria me encontrar. Então, eu construí esta casa no topo deste morro, para eu me recuperar. Você sobreviveu ao inferno e por isso, um dia, você poderá usar seus poderes, mas isto é assunto para outra hora.

Então eu, Edineuza, decidi continuar morando na colina com a simpática VIDENTE, porém ela me contou que, mais cedo ou mais tarde, o inferno poderá nos alcançar pois, com tanta maldade no mundo, o destino da Terra será queimar no fogo do inferno.

           

Aluno: Cassiano Ribeiro Alves Bardella
8.º ano I – 29/06/23 – Conto reescrito
Disciplina: Língua Portuguesa – Professora Walterlin
NEJ Hermínio Milis

Nenhum comentário:

Postar um comentário