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domingo, 20 de junho de 2021

O sonho de Rosa

 

Era época de colheita na Fazenda Esperança. Seu Leopoldo, o proprietário, já era idoso e tinha as mãos calejadas pela lida diária no campo desde a sua infância. Apesar das dificuldades, ele amava ser agricultor e criador de gado. Seu maior sonho era que o seu neto Leonardo assumisse o seu lugar e fizesse a fazenda prosperar ainda mais. Seu Leopoldo tinha também três netas, mas, segundo a tradição, era natural que os homens da família fossem os sucessores dos mais velhos na propriedade.

No seu íntimo, Seu Leopoldo sentia um misto de tristeza e decepção, pois o neto Leonardo nunca demonstrava interesse pelos afazeres da fazenda. Era a sua neta Rosa, a caçula, que sempre estava junto com ele, ajudando-o em tudo o que fosse necessário. Desde pequena, Rosinha acordava cedo, tomava o café da manhã com o avô e os dois saíam juntos para tratar os animais, recolher os ovos, tirar leite e, depois, iam para a roça. Rosinha sempre estava tagarelando e bem-disposta.

___ Vovô, quando eu for adulta, quero ser como você. Adoro trabalhar nesta fazenda, pois ela nos dá tudo o que precisamos para viver.

___ Rosinha, eu gosto muito de sua companhia, mas este trabalho não é para mulher. Você e suas irmãs deverão ir para a capital e se formar numa universidade. O serviço da fazenda deve ficar para o Leonardo ___ retrucava seu Leopoldo.

___ O senhor ainda vai me ver dirigindo trator e plantando soja ___ insistia Rosinha.

O tempo passou, Rosinha e suas irmãs concluíram o Ensino Médio e não houve jeito de ficarem na fazenda. Seu Leopoldo insistiu tanto, que convenceu a sua filha Ana e as três netas a se mudarem para a capital para estudar.  A neta Talia decidiu cursar Pedagogia, Joana escolheu Ciência da Computação, pois adorava tecnologia, e Rosa escolheu Agronomia, pois continuava firme no propósito de trabalhar na fazenda como o seu avô.

Enquanto as netas estudavam na capital, seu Leopoldo foi enfraquecendo e já não tinha o mesmo vigor para o trabalho. Leonardo não se dedicava à fazenda, vivia falando que iria embora para São Paulo e a produção foi diminuindo a cada ano.

As três irmãs se formaram na mesma época. Talia e Joana conseguiram bons empregos na capital, mas Rosa não conseguiu trabalho na cidade e só pensava em voltar para a fazenda. Certo dia, aborrecida, Rosa comunicou sua decisão à sua mãe e às irmãs:

___ Vou voltar para a fazenda. Meu lugar é lá, junto com o vovô.

___ Rosa, pense bem ___ argumentou Joana ___ na fazenda você não vai progredir. Vai passar sua vida inteira plantando, colhendo e tratando dos animais. Na fazenda você nunca terá folga, além de trabalhar debaixo de sol e de chuva. Aqui na capital a vida é bem melhor, garota.

Rosa permaneceu calada, mas no seu íntimo sabia que poderia conquistar seu sucesso na fazenda. Enquanto isso, Leonardo vendera mais um trator sem o consentimento do seu avô. Pegou o dinheiro e deixou apenas um bilhete em cima da mesa da cozinha: “Vovô, estou indo para São Paulo. Não aguento mais ficar aqui nesta fazenda. Não nasci para viver no campo. Vou abrir uma lanchonete lá em São Paulo. Gosto do movimento de cidade grande. Fui. Seu neto, Leonardo”.

Depois de ler o bilhete do neto e descobrir a falta do trator, seu Leopoldo passou mal. A empregada da casa avisou a filha e as netas que ele fora internado em estado grave. Rosa imediatamente disse às irmãs:

___ Aqui não fico mais. Vou cuidar do vovô e da fazenda. Ele sempre foi o meu melhor amigo e companheiro.

___ Você vai se arrepender dessa decisão, Rosa.

___ Vocês não vão conseguir me deter. Volto para a fazenda hoje mesmo.

Ao chegar no hospital, Rosa ainda pôde ouvir o seu avô.

___ Que bom que você veio, Rosa! Eu estava com medo de que você não chegasse a tempo.

___ Que é isso, vovô? O senhor ainda vai viver muito tempo.

___ Não, querida. Eu sei que me restam poucos minutos...

___ Não diga isto, vovô, por favor!

___ Rosinha, o Leonardo me decepcionou muito! Perdoe-me minha neta querida. Eu sempre lhe dizia que a lida da fazenda não era para mulher. Precisei me aborrecer muito com as trapaças do meu neto para reconhecer a sua dedicação e o seu amor pela nossa fazenda.

___ Vai ficar tudo bem, vovô. Nós ainda seremos uma dupla imbatível na Fazenda Esperança.

___ Tenho pouco tempo, Rosinha. Ouça-me, por favor. Eu sei que posso confiar em você, minha neta. Eu fiz um testamento deixando a fazenda para você. Também deixei uma boa quantia em dinheiro para você investir em seu sonho, Rosinha.

Seu Leopoldo começou a tossir e se engasgou.

___ Vovô, por favor, descanse. Não faça esforço...

___ Rosinha, procure o advogado Leôncio. Ele está a par de tudo. Bom trabalho, Rosinha. Adeus...

Seu Leopoldo tossiu por mais uns instantes e silenciou para sempre.

___ Vovô! Vovô, não me deixe, por favor!

A enfermeira chamou o médico, mas Seu Leopoldo já estava morto.

Uma semana depois, Rosa procurou o advogado para os trâmites legais. Um mês depois, Maria Teresa e Odete, ex-colegas de faculdade, foram até a fazenda fazer uma proposta de trabalho. As três amigas fizeram um contrato. Maria Teresa ficou responsável pela produção e venda de hortaliças e frutas. Odete assumiu a criação de gado e a produção de leite, pois era médica veterinária e zootecnista. Rosa ficou responsável pela produção de milho e de soja. Dona Ana, mãe de Rosa, continuou morando na capital e atuava no mercado agropecuário negociando os produtos da Fazenda Esperança.

Durante algum tempo, as quatro mulheres eram motivo de chacota dos outros fazendeiros da região. Porém, nenhuma delas se deixava abater pelo preconceito dos fazendeiros. Aumentaram o número de estufas para a produção de hortaliças. Equiparam os estábulos com mais ordenhadeiras. Reformaram as instalações e financiaram uma colheitadeira e um trator. Rosa e suas amigas, controlavam muito bem o custo da produção e os valores que entravam em caixa. Em três anos, a Fazenda Esperança se reergueu e tornou-se competitiva no mercado agropecuário. Já não se ouvia piadinhas e chacotas com o nome das quatro fazendeiras. Pelo contrário, elas passaram a ser referência no mercado.

Na fazenda Esperança tem mulher trabalhando com trator, tem mulher operando colheitadeira, tem mulher acompanhando a ordenha, tem mulher administrando e ganhando muito dinheiro. Rosa sempre comenta que sente a presença do seu avô passando uma energia boa e inspirando as talentosas mulheres que deram continuidade à história da família.

Atualmente, Talia e Joana sentem uma pontinha de ciúme de Rosa, a mulher que quebrou o tabu da família que não acreditava na capacidade de suas mulheres conquistarem o sucesso e a riqueza no ramo agropecuário. Agora são elas que esbanjam a sua elegância e bom gosto. Usam chapéus, botas, calça jeans e camisa. Quando saem a passeio usam maquiagem, belos vestidos e joias. Essas mulheres batalhadoras podem tirar férias e até viajar para o exterior. Além disso, geram dezenas de empregos no campo. Enfim, um viva às mulheres fazendeiras.

 

Aluna: Bruna Karoline Borges

9.º ano - Conto reescrito - 18/06/2021

Disciplina: Língua Portuguesa – Professora Walterlin F. Kotarski

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