Pesquisar este blog

sexta-feira, 28 de maio de 2021

Um caso de boa memória

 

Como é bom ter boa memória. Dificilmente eu esqueço alguma coisa. Vou ao supermercado sem listinha de compras e lembro de todos os produtos que eu preciso comprar. Agora mesmo, estou entrando no supermercado. Antes de chegar às gôndolas, percebo que um funcionário está me apontando com o dedo e colocando a mão no rosto. Pensei cá com os meus botões: “Será que esse cara é maluco ou está bêbado?” Não dei bola para os acenos e comecei pegar as compras e colocá-las no carrinho. Passei para o outro corredor e percebi que o cara continuou me seguindo e acenando. Apontava-me com a mão esquerda e passava a mão direita sobre o nariz e a boca. Neste momento pensei: “Como é que o proprietário contratou esse esquisito? Hoje em dia está difícil encontrar pessoas que levem o trabalho a sério”. Continuei a minha compra.

De repente, encontrei um amigo do tempo de escola, quando éramos criança.

___ Opa! Luciano, que surpresa velho amigo! Tudo bem com você?

___ Tudo bem, Rodolfo, graças a Deus!

___ A quanto tempo não nos vemos, cara! O que tem feito na vida?

___ Estou trabalhando como servente ___ respondeu Luciano.

___ Eu atuo como pedreiro ___ disse eu.

Nesse momento a esposa de Luciano o chamou para a fila do açougue.

___ Rodolfo eu estou morando na primeira casa ao lado da igreja do Bairro Bela Vista. Casa verde, número 135. Apareça lá para batermos um bom papo. Hoje nós estamos com pressa. Minha esposa tem hora marcada no dentista.

___ Beleza, cara. No próximo sábado à tarde chego lá. Tchauzinho! Bom final de semana.

___ Obrigado, igualmente! Até sábado, amigo.

Peguei um pacote de açúcar e me deparei outra vez com o cara fazendo gesto para mim. Pensei: “Será que ele é homossexual e está me assediando?” Peguei um pacote de feijão e um de arroz. Olhei para o lado e percebi que o rapaz continuava me seguindo. Pensei: “Será que esse maluco quer me roubar?” Ele apressou o passo em minha direção e falou:

___ Senhor, por favor, espere!

___ Eu? O que é? Por que está me seguindo?

___ O senhor não está esquecendo alguma coisa? ___ perguntou ele.

___ Eu não. Estou levando tudo o que minha esposa pediu.

___ Não me refiro às compras, mas sim à sua máscara. Cadê a sua máscara? Sabia que o senhor pode ser multado por colocar a sua vida e a vida de outras pessoas em risco? Esqueceu que estamos em pleno pico da pandemia?

___ Você está maluco, cara? ___ perguntei ___ Ou por acaso é cego? Eu estou usando máscara, sim!  Vou mostrar a máscara para você bem de perto.

Levei a mão ao rosto...

___ Ué! Cadê a minha máscara? Eu juro que pus a máscara antes de sair de casa!

___ Da próxima vez, faça o favor de dar atenção a quem o interpela. Eu vou lhe emprestar uma máscara, pois o senhor não pode permanecer dentro do supermercado sem seguir o protocolo de prevenção à COVID. Desta vez o senhor está sendo orientado. Preencha esta notificação com seu nome completo, CPF e endereço. Depois assine, por favor! Se houver reincidência, será multado em 500,00 reais por cada infração.

Fiquei muito envergonhado. Não sabia onde enfiar minha cara. Várias pessoas olhavam em nossa direção. Que vexame, meu Deus!

___ Aqui está a notificação preenchida e assinada, moço. Por favor, desculpe-me! Não sei o que houve com a minha cabeça. Eu tinha certeza de que estava de máscara.

___ De hoje em diante, senhor, tenha sempre consigo máscaras e álcool gel. É preciso ser consciente de sua responsabilidade: proteger a sua saúde, a saúde de sua família e de todas as outras pessoas que cruzam o seu caminho. A COVID não é só uma gripezinha. Este vírus já matou mais de 450 mil brasileiros, senhor!

___ Muito obrigado! Desculpe-me, por favor! Sinceramente, não sei como isto aconteceu comigo. Eu era capaz de jurar que estava de máscara. Que cabeça a minha!

Depois dessa gafe, nem terminei as compras. Tratei de sumir daquele mercado o quanto antes. Eu estava vermelho de vergonha. O funcionário estava certo e eu fazendo mau juízo dele. Pelo jeito a minha memória já não está lá “aquelas coisas...”

 

Aluno: Roger Maçaneiro

7.º ano II – Crônica reescrita – 28/05/2021

Disciplina: Língua Portuguesa

Professora Walterlin F. Kotarski

Nenhum comentário:

Postar um comentário