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terça-feira, 10 de maio de 2011

Aconteceu em Videira

Cansados de esperar por uma carona, os amigos Pedro e Manuel, soldados do exército, resolveram cochilar num barranco à beira da estrada. Depois de passarem horas em pé, os rapazes estavam com o corpo todo dolorido e acabaram entrando em sono profundo. Quando acordaram, já havia anoitecido.

__ Pedro, arrume as nossas bagagens, enquanto eu vou para a beira da estrada pedir carona novamente __ disse Manuel.

__ Tudo bem, companheiro. Tomara que desta vez alguém nos dê carona, caso contrário, teremos problemas no batalhão, além de termos que passar a noite ao relento __ disse Pedro.

Na beira da estrada, Manuel fazia sinal após sinal, mas ninguém parava. De repente, o rapaz olhou para sua esquerda e viu que uma moça vestida de branco se aproximava.

__ Boa noite, rapaz! Pelo que vejo, está difícil de conseguir carona hoje __ disse a moça.

__ Boa noite, senhorita! Realmente, eu e meu amigo estamos há horas nesta estrada e não conseguimos carona. O pior é que temos hora para chegarmos ao batalhão, lá em Porto União.

__ Bom, eu já não posso me queixar, pois não tenho hora para sair nem para chegar...

__ Que bom que a senhorita chegou, conversando o tempo passa mais depressa e eu fico menos angustiado com a falta de carona.

__ Olha rapaz, se você quiser conversar vá ao túmulo número 23 do Cemitério Municipal. Lá é bem mais tranquilo, não há esse barulho de carros e caminhões que não cessa dia e noite __ disse a moça.

Um arrepio percorreu o corpo de Manuel da cabeça aos pés, enquanto a moça continuou falando:

__ Veja o que fizeram comigo!

A moça virou-se e mostrou suas costas marcadas por horríveis ferimentos. Em seguida, soprou um vento com cheiro de flor de laranjeira e ela sumiu. Manuel ficou trêmulo, pálido e com as pernas bambas.

__ Manuel, com quem você estava conversando? __ perguntou Pedro ao amigo quando descia pelo barranco com as mochilas de ambos.

__ Por incrível que pareça, eu estava conversando com uma moça que me mostrou suas costas cheias de ferimentos. Ela deve ter sido vítima de algum crime ou de tortura. Passou um vento perfumado e ela sumiu. Veja como estou tremendo, Pedro.

__ Cara, nessa estrada passa até fantasma, mas carona que é bom, nada! __ reclamou Pedro.

Manuel fez mais um sinal, desta vez parou uma caminhonete cabine dupla, com um casal de meia-idade.

__ Parei porque vocês estão com a farda do 5.º Batalhão e dá para perceber que são soldados. Embarquem rapazes. Em menos de duas horas estaremos passando em frente ao Batalhão de Porto União __ disse o gentil motorista.

Durante o trajeto, o casal contou aos soldados que havia perdido uma filha, vítima de assaltantes que, além de roubá-la, torturaram-na até a morte num matagal próximo à rodovia e ao lugar onde os soldados estavam pedindo carona. Novamente, um calafrio percorreu o corpo dos dois rapazes. Pedro e Manuel entreolharam-se...

__ Será que foi a moça que sumiu na escuridão da noite que pediu para o pai dela nos dar carona? __ cochichou Pedro no ouvido de Manuel.

Os dois amigos desembarcaram na frente do batalhão exatamente no horário em que deveriam chegar. No exército, os soldados zoavam de Pedro e Manuel. Diziam que o causo era mais exótico do que cotidiano.

Aluna: Crislayne Manoely Ribeiro

8.ª série – Crônica – 10/05/11.

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